quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Instintos Humanos, nos Primórdios e na Atualidade

    Atualmente, a maior parte das pessoas aceita completamente a Teoria da Evolução, exceto os “criacionistas”, talvez por gostarem do seu estilo "old school" ou por tentarem se convencer a si mesmos de que o senhor lá de cima é quem manda, e por isso mesmo pregam a sua religião como se não houvesse amanhã. Abandonando a fé e estudando as descobertas científicas, os humanos descendem dos macacos e estes, por sua vez, descendem de mamíferos mais primitivos; e não, não são fruto do acasalamento entre um homem que apareceu na Terra após Deus ter tocado no chão como o seu dedo, e uma mulher que veio ao mundo através dos dotes artísticos de um homem com um lençol vestido, que por mais incrível que pareça, conseguiu moldar uma costela de um homem para criar uma mulher. Analisando bem, esta veio ao mundo através do processo partenogénese, e por isso mesmo, esta é filha do homem a quem lhe foi tirada a costela. Mesmo assim, esta religião condena os atos de incesto. Mas é certo de que nem todas as história têm bons autores. 
   Nossa forma e estrutura derivam de outras criaturas e há implicações psicológicas desse facto. O Homo Sapiens não apenas parece, se move e respira como um macaco; ele também pensa como um macaco! Não apenas temos um corpo da Idade da Pedra, como também temos uma mente da Idade da Pedra!
   Há 5 milhões de anos, nossos ancestrais hominídeos desceram das árvores para tentar a sorte na savana. O fim da Era do Gelo forçou-os a adaptarem-se a um novo ambiente com menos recursos naturais do que as florestas tropicais e pouca proteção física contra os predadores. A seleção natural persistiu por mais de 200 mil gerações com homens/macacos competindo com outros animais.
   Começamos a vida na savana como Australopithecus, com um cérebro de tamanho igual ao de um chimpanzé. Nos 3 milhões de anos que se seguiram, ele triplicou de tamanho. A expansão do número de células cerebrais até o nosso estado atual, com cerca de 100 bilhões de células nervosas, resultou em uma mente cada vez mais complexa. Continuamos a desenvolver uma série de instintos, simultaneamente a um extraordinário salto em nossa aprendizagem, emoção e racionalidade.
   Por um lado, aprendemos a fazer uso de ferramentas. Descobrimos o fogo e os seus usos. Exploramos o mundo que habitamos. Começamos a conversar uns com os outros e a vida em comunidades mais complexas. Caçadores migrantes trocaram informações. Relações de cooperação e familiaridade possibilitaram a formação de grupos maiores. A crescente divisão de trabalho nos permitiu criar raízes, construir civilizações e ter uma vida cultural criativa.

   Por outro lado, a nossa busca por riqueza material e "status" resultou na dissolução de unidades familiares. Temos desejos e necessidades emocionais que nem sempre são satisfeitos. Há, portanto, tensão entre os nossos instintos da Idade da Pedra e as dificuldades impostas pela civilização pós-industrial.
   A definição de “instinto” está na diferença entre:
- a mente com a qual nascemos;
- a mente que “formamos”, por aprendizagem, cultura e socialização.
   Então, instinto é, essencialmente, a parte do nosso comportamento que não é fruto de aprendizagem. Contudo, o nosso ambiente – e, portanto, a nossa aprendizagem – pode ter uma influência poderosa no modo pelo qual nossos os instintos se expressam.
   O instinto é construído por elementos humanos herdados: ações, desejos, razão e comportamentos. Esses instintos especificamente humanos são aqueles que se formaram durante nosso o tempo na savana.
   Hoje, sabemos muito mais a respeito de características herdadas do que Charles Darwin  no seu tempo – sabemos que são transmitidas por genes. A descoberta da sequência completa do genoma humano é um marco na história da ciência. O Projeto do Genoma Humano foi completado em 2001. A odisseia foi listar cerca de 3 bilhões de letras que representam as ligações químicas da dupla hélice do DNA. Nesse código está a receita para o desenvolvimento do corpo humano.
  
 A grande maioria do código químico é idêntico, por isso se diz “o” genoma humano. Cerca de uma em cada 10 mil letras será diferente entre uma pessoa para outra. Nestas diferenças residem as variações de psicologia humana.O desenvolvimento do cérebro humano é amplamente determinado pelo código genético.
   O comportamento humano é instável e imprevisível. As possibilidades de comportamento diário são infinitas. Ele está à mercê de muitas forças que não controlamos e que o empurram de um lado para outro. Algumas forças biológicas, cognitivas e culturais anulam-se, outras pressionam para a mesma direção. É inteiramente impossível que duas tendências de instinto ajam de modo igual e contrário. Possuímos um mecanismo adaptativo em que coexistem a competição e a cooperação. O desafio é tentar desembaraçar essas forças e explicar suas origens.
   A Teoria do Caos diz nos que pequenas mudanças nas condições iniciais têm um efeito crítico no resultado final de um sistema caótico. Isso aplica-se tanto ao comportamento humano quanto ao mundo físico. É impossível termos um modelo de previsão para o nosso comportamento porque há muitos fatores envolvidos, cada qual com o potencial de causar danos significativos. Há uma complicação a mais: os humanos aparentemente têm livre arbítrio, refletem sobre os seus comportamentos e podem alterá-los.
   Portanto, a explicação de grande parte do comportamento humano é um processo extraordinariamente complexo. É produto de muitos fatores diferentes: instintivos, psicológicos, racionais e emocionais – e a predição torna-se impossível. A aleatoriedade, então, é uma parte intrínseca das nossas características neurológicas.
   Mas podemos fazer suposições válidas sobre a vida na savana e a reação do homem primata a várias experiências. Sabemos que os princípios físicos do planeta eram os mesmos. Sabemos da existência de uma série de predadores. Os hominídeos corriam o risco de serem comidos. Havia insetos venenosos, assim como frutos venenosos.
   As regras básicas do estilo de vida mamífero permaneceram intactas: comer, beber, aquecerem-se e dormir. Puberdade, reprodução e envelhecimento já marcavam as fases da vida. Divisão de trabalho entre sexos também existia, assim como a convivência com a morte. Havia doenças e ferimentos. Os mais frágeis eram dependentes dos outros para receber comida e proteção. A mortalidade infantil era muito alta, a esperança de vida muito baixa.
   Os recursos finitos – de caça, vegetação comestível, água e abrigo – pode significar que havia competição por estes recursos. Não apenas competição entre as espécies, mas competição dentro das espécies. Devíamos guerrear uns contra os outros.
     A ideia do “gene egoísta” é que ele exerce uma influência massiva tanto no desenvolvimento evolutivo quanto na psicologia da mente humana. Não apenas afeta a nossa luta por recursos e parceiros, como também define os termos nos quais as nossas vidas sexual e familiar evoluem.
   Não devemos subestimar o poder da arqueologia, embora suas suposições partam de evidências frágeis e inconclusivas. As adaptações físicas são relativamente fáceis de se ver. As heranças de genes com aptidões mais eficientes selecionavam os indivíduos mais propensos a sobreviver e a se reproduzir, embora sem nenhum sentido de intenção ou de planeamento.
   A evolução não é perfeita. Não podemos cair na armadilha de pensar que “a seleção natural resultou na melhor, mais barata  e mais elegante solução para cada problema”. A evolução é imperfeita, porque sempre envolve contínua mudança. Os passos regressivos quase nunca aconteceriam.
   A seleção natural abrange uma série de pressões evolutivas simultâneas. Nenhuma adaptação ocorre de forma isolada. Nós somos repletos de compromissos e concessões. Alguns passos produziram uma vantagem seletiva para determinada espécie. A seleção natural, simplesmente, não pode começar novamente do zero e escolher a melhor solução possível.
   Apesar do cérebro humano parecer estar adaptado para realizar certas tarefas, isso não significa que estamos a ver adaptações reais. Em animais cujo comportamento parece consistir exclusivamente de respostas a processos instintivos, decidir se algo é ou não uma adaptação genética a partir da sua história evolutiva é mais fácil. É improvável que seja resultado de uma série de mutações aleatórias.

   A mente humana é mais complexa e flexível. Não somos escravos dos nossos genes, mas somos profundamente afetados por eles. Separar as adaptações de todo o resto é extremamente difícil. Só porque certos tipos de comportamentos humanos são constantes em culturas diferentes não significa que eles sejam geneticamente determinados. Por exemplo, todas as sociedades que usam lanças as arremessam com a ponta voltada para frente, mas isso não significa que a nossa espécie tem um gene específico para este tipo de prática.
   Quando os bebés abrem os olhos e começam a registar a existência de um mundo externo, inicia-se um processo de desenvolvimento neurológico. Os instintos são acionados um a um – são as ferramentas de sobrevivência que vem pré-embaladas com o recém-nascido. Mas o cérebro não pode desenvolver-se a não ser que receba os impulsos corretos. O ambiente no qual crescemos é fundamental para o desenvolvimento do instinto humano.
   O desenvolvimento da natureza humana depende das pessoas e da cultura à nossa volta. Daí a importância fundamental da educação, da experiência e do ambiente social nos quais somos criados. Os nossos mecanismos cognitivos para lidar com o mundo, sejam eles reconhecimentos de rostos, aquisições de linguagem ou desenvolvimento emocional, não vão aparecer sozinhos. Depois de um certo ponto no tempo, pode ser tarde demais para “ligá-los”.
   O processo de evolução está entrelaçado ao crescimento da cultura. Essa “cultura” começou muito antes da evolução nos tornar o que somos hoje.
   É tentador olharmos para as nossas vidas modernas – nossas razões, desejos, esperanças, problemas – e encontrar uma simples explicação evolucionista para tudo. Mas o estudo da humanidade não deve permitir a simplificação de explicações complexas, o que não significa perder a clareza didática da simplicidade.
   Concluindo, o nosso passado evolutivo exerce uma pressão poderosa. Mas o elemento genético do comportamento humano será sempre refratado pela cultura. Os genes são responsáveis pela mente humana da mesma forma que um roteirista é responsável por um filme. O roteiro é a base do filme, mas o estilo visual e o ritmo do filme são determinados principalmente pelo diretor e pelo montador. Ocasionalmente, parte do diálogo será improvisado na encenação. Cada pessoa, ao assistir o filme, pode interpretá-lo de uma maneira diferente.

Por:  João R. Abreu

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